quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ele

Tá tudo meio estranho ultimamente. Eu não consigo me concentrar em nada, não tenho vontade de fazer nada, não estou 100% nos lugares onde estou e descobri que sou mais complexa e confusa do imaginava. A minha única vontade, no momento, é ir pra algum lugar bem longe daqui e que tenha um cartão de crédito sem limites... e que a fatura não venha no meu nome.

E quer saber o pior?

No meio dessa minha confusão toda, ele apareceu. Coitado! Não acredito em nenhum homem porque, infelizmente, tenho muitos amigos e, pra piorar, nasci espertinha. Uma das piores coisas que podem acontecer a uma mulher é conviver muito com homens. Saber como eles pensam, agem, funcionam e o que querem. Quanto mais contato com o sexo oposto ficamos cada vez menos romântica e mulherzinha. Mas ele é diferente.

Ele me faz querer voltar a ser quem eu era. Acreditar que ainda tenha pessoas que valham apena nessa confusão que chamamos de vida. Ele, o douçurinha, é tão certo de si, mas ao mesmo tempo não sabe de nada. Tem tantas convicções, mas não luta por elas. Deixa a vida passar enquanto ele fica observando pela janela. Eu tenho vontade de colocar uma placa nele escrito “cuidado frágil”, porque é exatamente assim que ele é... acho que ainda não percebeu que a vida é bruta e quem não souber levá-la vai ficar pra trás.

Mas tem muitas coisas nele que me fazem sentir melhor. Ele tem uma sinceridade sem igual nos pequenos gestos, palavras e atitudes. Ele me ensina muito todos os dias. Ele me chama de minha linda. E isso me assusta, porque eu sempre pertencia àqueles que não sabiam me chamar de minha e, menos ainda, sabiam que eu era deles. O Doçurinha me mostrou uma coisa – mesmo sem perceber – eu não sou totalmente minha e, talvez, não esteja preparada pra ser de alguém.

Apesar de chorar por qualquer coisa, calçar 34 e ser exagerada eu sei fazer piadas mais sujas que borracheiros. Mas o Doçurinha me fez esquecer que também sou assim. Ele me faz medir as palavras pra falar com ele, porque entre todas as pessoas do universo a única que eu não quero machucar de novo é ele. E eu tenho uma urgência de ajudar, cuidar e mostrar que sempre dá pra mudar.

Ele gosta de ficar em casa e eu de sair. Ele fuma e eu odeio cigarros. Ele tem vergonha até da sombra dele e eu só não sou mais extrovertida, porque sofro de mau humor crônico. Ele sabe levar um relacionamento por longos anos, já eu, se não estou feliz não penso meia vez antes de terminar. Ele fala baixo e desvia o olhar eu falo alto e olho nos olhos. Ele sorri de uma forma contida pra esquerda eu dou gargalhada pra ninguém ter dúvidas de que estou rindo mesmo. Eu preciso de pessoas pra ser feliz e completa ele não. Eu gosto de dançar ele não. Eu gosto de ler ele não. Eu sou fascinada por MPB ele não gosta de nada que é popular. Acho que eu poderia passar a eternidade citando as nossas diferenças aqui, mas quer saber? Ele me lembra o mistério da vida. Nada faz sentido, nada combina, não entendemos nada, mas mesmo assim continuamos insistindo de que no final tudo dará certo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Querido Papai Noel,

Esse ano eu fui uma menina bem boazinha. Escovei os dentes todos os dias, dei o lugar onde estava sentada pra uma velhinha sentar, não fiquei com o primeiro imbecil que me aparecesse – ta, tudo bem... talvez com um ou dois, mas esses não contam – e passei de ano. A última vez que te escrevi uma cartinha eu tinha uns cinco anos, mas aí o Bruno – gordo, catarrento e de cabelo sujo – levantou da carteira e começou a gritar: ela é bobona, ela acreditaaaaa!! Aí eu chorei, pô eu estava na primeira série, tinha todo o direito de acreditar! Então, quando eu cheguei em casa perguntei para minha mãe se o senhor existia... ela disse: Não existe filha!

Poxa, meu mundo caiu naquele momento. E não quis mais saber de você. Então, o mundo ficou cinza e sem graça... e o Papai Noel do shopping não passa de um velho que não vai te dar nenhum presente, que não suporta criança, mas finge uma simpatia fora do normal, que está morrendo de calor naquela roupa ridícula e que não tem tempo para lavar a sua única calça vermelha.

Esse ano eu fui uma menina meiga, linda e bem boazinha, daí, eu pensei que nada mais juto que resgatar a fé que ainda há em mim e te fazer um pedido: Senhor Noel, eu acredito no amor. Tá, eu sei que é uma coisa dificílima de acreditar e que nenhum velho de calças vermelhas, um saco, viadinhos e que no máximo te dá um pirulito em troca de uma sentadinha no colo irá me dar. Eu ainda acho que o senhor vai me dizer: pega seus livros, o computador, um cachorro e se mude para o Pólo Sul. Congelada e sozinha com certeza você viverá melhor! Mas véio, não sei se você sabe: eu sou taurina – grande merda, né? – e reza a lenda que esse tipo de pessoa é extremamente teimosa, coincidência ou não: eu sou teimosa, cabeça dura e sim: ainda acredito no amor! Eu acredito sim!! E não importa que o catarrento do Bruno grite igual retardado sem coração: “Ela acredita!”. Escuta aqui, pirralho: eu acredito no amor e ainda acho que dá pra sonhar. Seu filho da putinha, ouviu? Eu acredito sim!

Papai, na moral? Eu cansei. Só preciso que seja natural, simples e fácil. Eu não quero agir da forma que me falam que se deve agir, eu só quero ser eu mesma, saca? Eu não quero poucos. Eu não quero muitos. Eu quero um. Um amor. Só um e só meu.

Já tive o suficiente daquele resto que a gente insiste em dizer que é amor, já provei o suficiente pra saber que o Bruno estava certo em gritar, rir e dizer que não existe. Agora Noel, eu quero sentar no seu colo – e não me venha com pirulitos – e quero que exista um pouco de amor e pureza nisso que chamamos de vida.